Cátia Curica - a inspiração por trás da Organii
A Cátia Curica é uma força da Natureza. Neste caso as palavras não são por acaso e estão mesmo bem aplicadas. Porque o que a move é a Natureza e a sua natureza é muito forte!
Criou em 2007, em conjunto com a sua irmã Rita Curica, um projecto magnífico e muito completo chamado Organii, em que cada passo foi dado de forma holística, (vindo de uma necessidade pessoal das duas, de encontrar produtos cosméticos biológicos que não provocassem alergias ou reações adversas) conseguiram criar um projecto baseado na sustentabilidade que há muito fazia falta em Portugal. A Organii cresceu muito e bem, e construiu os seus espaços tendo por base a premissa de informar conscientemente o consumidor a fazer as suas escolhas, ao mesmo tempo que procura sempre as melhores soluções e equilíbrio para diminuir a nossa pegada ambiental.
A Cátia sempre me inspirou e claro que não podia deixar de a entrevistar aqui no blog, recentemente revelou uma outra faceta, relacionada com o triatlo em que nos mostra o seu lado forte e de desafio constante na vida. Foram sobre estas e outras questões que conversámos nesta entrevista, que espero vos inspire tanto como me inspirou a mim, e que não percam todas as partilhas preciosas que vai fazendo no seu Instagram pessoal.
Se eu assim de repente te perguntasse: Quem és tu? O que é que te vinha logo à cabeça para te apresentares?
Não sei bem, não me sinto como uma pessoa estanque e adoro as mudanças que sinto surgirem dentro de mim. Mas quase desde que me lembro de mim própria que sinto uma enorme preocupação com o ser saudável, ter energia, sentir o meu corpo a funcionar bem.
Qual foi o teu percurso até aqui?
Estudar farmácia, macrobiótica e depois medicina tradicional chinesa. Procurar um caminho entre as consultas, as aulas e a Organii. Ser mãe, voltar a tentar ter um balanço entre tudo. A Organii sempre a absorver todo o meu tempo... A coisa boa de tudo é criar a oportunidade de repensar e ter a coragem de dizer que não. Recuso muitas consultas, mas sinto que não tenho tempo, e precisamos de tempo para fazer as coisas bem feitas.
Como surgiu a Organii? O que está por trás de um projecto tão completo?
Surgiu como um complemento, uma loja de cosmética, mas de cosmética que eu e a Rita utilizávamos e à qual não fazíamos alergias e sentíamos não existir em Portugal. Surgiu da nossa necessidade e foi evoluindo com muitas nuances mas a base sempre foi a mesma. A procura de marcas bio de qualidade, familiares, com respeito pela nossa pele, animais e pelo planeta.
Que conselho darias a alguém que queira iniciar um projecto/negócio na área da sustentabilidade?
Arranjar financiamento para ter algumas pessoas de qualidade e com experiência a trabalharem logo de base no projecto. É muito duro fazer como nós, tudo sozinhas e contratar pessoas com o valor que a empresa gera. Demora muito, cansa muito e faz pensar muitas vezes em desistir...
Outro concelho é arranjar com quem falar. Desenvolver um projecto é algo muito solitário, pensar sozinho é redutor e por isso ter pessoas com quem falar, partilhar é muito importante mesmo. E se perceberem as nossas dores melhor ainda!
Quais as tuas rotinas ou o que fazes para tentar encontrar o equilíbrio num mundo em que o ritmo é cada vez mais acelerado e nos é exigido cada vez mais tarefas?
O meu equilíbrio faz-se com muitos desequilíbrios à mistura... Eu bem tento que tudo seja regular e certinho mas todas as semanas temos imprevistos... Faço triatlo, corro, nado, ando de bicicleta e ao fim de alguns kms acalmo, penso melhor, respiro. Tento respirar calmamente nem que seja 5 min uma vez ao dia. Cozinho, faço pão. A cozinha é uma grande terapia e companhia.
Podes partilhar connosco uma das tuas mezinhas incríveis que fazes há muitos anos?
Existem duas que faço regularmente: uma é beber uma bebida quente com plantas adaptogéneas e que me ajudam muito a acalmar a ansiedade – cacau + maca + ashwagandha, ao fim da tarde e sou outra pessoa. E uma que recorro muito é ao ume-sho-kuzu. Mezinha macrobiótica que mudaram os meus intestinos e que sempre que não os sinto bem volto a tomar. Uma colher de sobremesa de kuzu num copo com água, levar ao lume e quando começar a fever, diminuir e deixar ferver no mínimo sempre a mexer, durante um minuto. Depois desligar e colocar umas gotas de molho de soja (shoyu) e meia ameixa umeboshi. Beber e comer tudo. Para os meus filhos o que não falta desde bebés é o cogumelo cordyceps.
Fala-me um pouco da tua aventura do triatlo, o que te trouxe para a vida?
Olha deu-me basicamente companhia. Eu estava numa fase em que deixei de ter companhia para sair à noite, para ir ao teatro e ao cinema, os meus amigos (e até acho que tenho muitos) estavam muito em casa. Com filhos e muito cansaço parece que deixaram de querer sair e até ao fim de semana tinham pouca disponibilidade. E eu sempre gostei de fazer coisas e via-me sem companhia... Como tinha começado a correr e a ir a corridas e estava cada vez mais entusiasmada resolvi experimentar o triatlo. Entrei num clube e ai tudo mudou. Muitos treinos, muita companhia, mais solicitações do que aquelas que o meu tempo até permitia. E agora em vez de ir ao café conversar vamos andar de bicicleta ou correr. Se juntares a esta boa companhia as endorfinas que o desporto liberta tens um vicio para a vida.
O que fazes, tentas ou gostavas de fazer para contribuir para um mundo mais sustentável?
O que eu realmente gostava era que as pessoas ganhassem consciência. Podem ter as opções que quiserem mas pensem nelas, pensem no impacto que têm em tudo: no planeta, nas outras pessoas, nos animais. Acho que o pensamento critico é a chave da nossa evolução.
@pigmentafotografia
Sem limites à imaginação, como seria o futuro deste planeta se o pudesses definir agora?
Seria um mundo feito de pequenas aldeias, comunidades que se interligam e que comunicam pela sua proximidade, que se conhecem e respeitam. Onde tudo é sustentável e não se usam descartáveis. Sem mega governos reféns de mega grupos económicos. Sou muito descrente no modelo democrático atual... Sou a favor do desenvolvimento autónomo de sociocracias ligadas à agricultura como base social. E a partir daí seria a contaminação... Um dia!
Três coisas positivas sobre o mundo que te alegrem e dêem esperança.
As pessoas estarem cada vez mais interessadas na sua saúde, na sustentabilidade e no desporto. Quererem abrandar e pensar de forma divergente, procurarem diversas fontes de informação. Tudo isto me dá muita esperança!
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